Maioria
de mortes maternas no país ocorre entre mulheres negras jovens
Mulheres negras têm duas vezes mais chances de
morrer por gravidez
Publicado
em 29/05/2018 - 18:09
Por
Débora Brito - Repórter da Agência Brasil Brasília
Mais da metade (54,1%) das mortes
maternas no Brasil ocorrem entre as mulheres negras de 15 a 29 anos. A
população negra feminina também tem duas vezes mais chance de morrer por causas
relacionadas à gravidez, ao parto e ao pós-parto do que as mulheres
brancas. A informação foi destacada pela doutora em saúde pública,
Fernanda Lopes, durante as discussões da 4ª Conferência Nacional da Promoção da
Igualdade Racial (Conapir). O evento está sendo realizado em Brasília com a
presença de especialistas, pesquisadores e ativistas da causa racial de vários
estados para levantar propostas de enfrentamento ao racismo.
Com base em estatísticas do
Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS), a especialista,
que também integra o grupo de racismo e saúde da Associação Brasileira de Saúde
Coletiva (Abrasco), apresentou algumas variáveis que mostram a desigualdade
racial no âmbito da saúde pública.
A pesquisadora Fernanda Lopes participa da 4ª
Conapir - Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
“Estas mulheres morrem com uma frequência maior,
prioritariamente por hipertensão, um problema que poderia ser identificado lá
no pré-natal. Mas, estas mulheres são as que menos têm informações sobre sinais
de parto, que com mais frequência têm o pré-natal considerado inadequado e são
aquelas que mais peregrinam até conseguirem vaga na maternidade para dar à
luz”, destacou Fernanda.
Apesar de o Brasil ter reduzido
consideravelmente os números de mortalidade materna nos últimos anos, ainda não
conseguiu atingir a meta estabelecida pela Organização das Nações Unidas de
reduzir em 75% o índice de mortes até 2015. A cada 100 mil nascidos vivos,
ainda morrem no país uma média de 60 mulheres em idade fértil.
Racismo institucional
A pesquisadora disse ainda que as
mulheres negras recebem com menos frequência recursos para alívio da dor
durante o parto, como tomar água, andar, tomar banho, ganhar massagem ou mesmo
ter a opção de ser anestesiada. Além disso, de acordo com o levantamento
apresentado por Fernanda, as mulheres negras têm menos chance de ter um acompanhante
durante o parto e na maternidade e estão mais sujeitas a ouvir expressões
discriminatórias. Ela cita entre os dados coletados na pesquisa frases ouvidas
pelas pacientes por agentes de saúde como "na hora de fazer não
reclamou".
“Isso é racismo institucional, é
violência obstétrica e é violência de gênero. É um tipo de violência que só as
mulheres vivem”, ressaltou Fernanda. A pesquisadora explicou que o racismo
institucional na saúde se expressa pela desigualdade no atendimento dos profissionais
da saúde à mulher negra e na negação a ela de acesso a proteção e direitos.
Este tipo de discriminação também tem impacto na organização e no funcionamento
dos serviços de saúde.
“A violência obstétrica começa no
pré-natal. Então, quando a gente está falando lá na atenção básica que estas
mulheres têm menos acesso à informação, isso é expressão de violência
institucional. Se estas mulheres peregrinaram mais até conseguirem vaga no
hospital, é expressão do racismo institucionalizado”, detalhou.
No atendimento pós-parto, os
índices também apontam para uma desvantagem das mulheres negras, principalmente
as mais jovens, em relação às brancas. “Em uma avaliação da estratégia da
família e da Rede Cegonha se observou que eram as mulheres mais jovens e negras
que recebiam com menos frequência a visita da equipe de saúde da família
durante o período de puerpério”, completou.
Entre as propostas para enfrentar
o problema, a pesquisadora sugere que o país melhore as pesquisas sobre
percepções das pacientes sobre atitudes discriminatórias nos serviços de saúde.
Conapir
No segundo dia da 4ª Conferência
de Promoção da Igualdade Racial (Conapir), os conselheiros e delegados se
dividiram em grupos temáticos para discutir diferentes propostas de combate à discriminação
étnica e racial nas áreas de educação, violência, religião, entre outros. O
conjunto final das propostas e resultados das discussões serão apresentados
nesta quinta-feira (30), último dia da conferência.
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Edição:
Amanda Cieglinski
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