Vale a pena aprender mandarim?
Brasileiro na China responde
O estudante
Wildiner Batista está em um intercâmbio na China e fala sobre quando e por que
aprender o idioma com mais falantes do mundo
Por
Wildiner Batista
Sempre que me perguntam se vale a
pena ou não estudar mandarim, me lembro de uma passagem sobre Confúcio, o maior
filósofo chinês:
Certo dia, um discípulo perguntou
a Confúcio: “Mestre, caso eu acredite que algo é certo, eu devo fazer
imediatamente ou devo consultar alguém primeiro?”. O mestre sem hesitação
respondeu “Claro que você deve fazer imediatamente”. No dia seguinte, outro
discípulo lhe fez a mesma pergunta: “Mestre, caso eu acredite que algo é certo
eu devo fazer imediatamente ou devo consultar alguém primeiro?”. Novamente sem
hesitar, o mestre respondeu: “Claro que você deve primeiro consultar alguém,
pois existem pessoas mais experientes e sábias que podem ajudá-lo”. Um terceiro
discípulo que presenciou os dois acontecimentos não compreendeu: “Mestre, como
pode uma mesma pergunta ter respostas diferentes?”. Confúcio prontamente
explicou: “Ao primeiro discípulo falta autoconfiança e sobra hesitação, então
ele precisa de incentivo à ação. Ao segundo, sobra autoconfiança e falta
ponderação, então ele precisa ser incentivado à reflexão”.
Além dos benefícios profissionais
que pode trazer, o mandarim também abre portas para a cultura e história
riquíssimas de uma civilização de mais de 5000 anos
A moral da história é que pessoas
e situações diferentes requerem respostas e ações diferentes. Seguindo
este ensinamento, em alguns casos eu incentivo e em outros desencorajo o
estudo do mandarim.
A regra que adoto é basicamente
pesar o custo de oportunidade baseado nos interesses e objetivos de cada
pessoa. Afinal, o tempo despendido estudando mandarim é tempo que não está
sendo gasto com estudo de cálculo II ou value-investing, com preparação
do GMAT ou com trabalho,
por exemplo. Por isso, é importante ponderar o que é mais importante e
priorizar.
Como regra geral, as vantagens de
aprender mandarim para alguém em um estágio mais avançado na carreira são
pequenas. Exceções são pessoas que trabalhem (ou almejem trabalhar) em um
setor, empresa ou posição em que isso seja um diferencial; ou pessoas que
queiram estudar por hobby ou interesse pela cultura chinesa.
Já para quem está no começo da carreira
ou na faculdade, digamos entre 18 e 35 anos, acredito que aprender mandarim
faça muito sentido. Pela situação do mercado no Brasil, com o desemprego
crescendo e a expectativa de melhora em apenas três anos ou mais, a língua pode
ser um diferencial que vale muito a pena. Por exemplo, um amigo que veio para a
China também pelo Ciência sem Fronteiras (CsF) e já voltou para o Brasil hoje
está empregado e feliz em uma empresa chinesa, além de já ter recebido alguns
convites de outras empresas do país com operações no Brasil. Também é
interessante, nesta fase, considerar a importância de conhecer a língua para
quem deseja ter uma carreira internacional.
Agora chegamos à idade na qual eu
acredito que aprender mandarim seja extremamente interessante: para quem ainda
está no ensino fundamental e médio, crianças e adolescentes até 18 anos.
Geralmente, nesta fase da vida os compromissos são pequenos e se tem mais
tempo livre para dedicar-se ao estudo de uma língua estrangeira.
Cabe lembrar que, uma vez
adquirida fluência na língua, os ganhos de longo prazo se mostram
significativos, com desenvolvimento da memória e do raciocínio lógico (confiram
mais sobre isto na matéria “What is a foreign language worth”). Mas além
dos benefícios profissionais que pode trazer, o mandarim também abre portas
para a cultura e história riquíssimas de uma civilização de mais de 5000 anos.
O conhecimento de uma terceira
língua, por si só, já é um plus; o mais importante e incontestável
em relação ao mandarim e à China é sua influência crescente no cenário global.
O investidor americano Stephen Schwarzman, que está à frente da iniciativa
impressionante Schwarzman Scholars, resumiu muito bem ao
afirmar: “No século 21 a China já não é uma disciplina eletiva; ela é parte do
currículo obrigatório”. De Wall Street ao micro-empreendedor que faz calçados
em Franca; do mercado de commodities à alta tecnologia, a influência
chinesa é enorme e deve se acentuar cada vez mais no decorrer deste século.
Assim, o entendimento de como a China se vê e como ela vê o mundo, e de como
funcionam a sociedade e política chinesas devem ter grande valor.
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Sobre o autor – Wildiner
Batista é estudante de Engenharia Civil na Unicamp e está fazendo um
intercâmbio de 2 anos na China pelo Ciência sem Fronteiras (CsF). No primeiro
ano, ele estudou mandarim em Wuhan e agora estuda na Universidade Tsinghua, que
é considerada a melhor universidade dos BRICS (grupo que
reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
*Foto: Wildiner na Universidade Tsinghua, em
Pequim. / Crédito: arquivo pessoal
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