Ex-barbeiro cria projeto para incentivar jovens pobres a estudarem fora

Gerson já viajou para os EUA e a Inglaterra: "E sou pobre, meu pai é porteiro e minha mãe cuida de idosos". Conheça história dele e baixe uma cartilha com dicas!
Não importa da onde você vem, mas aonde quer chegar


“Não importa da onde você vem, mas aonde quer chegar”, é uma das frases preferidas do carioca Gerson Saldanha, de 24 anos, estudante de relações internacionais. Autointitulado um “jovem da nova classe C”, ex-barbeiro, filho de um porteiro e uma cuidadora de idosos, ele já realizou dois intercâmbios e está planejando o terceiro. Depois de conhecer Seattle, nos Estados Unidos, e Londres, na Inglaterra, seu objetivo agora é ir para o Japão. E ele quer também inspirar outros jovens a seguir o mesmo caminho: em 2014, começou a visitar escolas da rede pública na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, para contar sua história e mostrar que, mesmo não sendo rico, dá para sonhar grande.


A história de Gerson começou a mudar numa manhã atipicamente cinzenta de maio de 2013. Como de costume, pegou um exemplar do jornal O Globo para levar à barbearia onde trabalhava e dar para os clientes lerem enquanto cortava-lhes os cabelos. Naquele dia, no entanto, resolveu folhear a página de esportes e deparou-se com o anúncio de um concurso que daria ao vencedor uma intercâmbio de um mês nos EUA. Para participar, era preciso responder à pergunta “Qual conexão geek você traz de bagagem para o seu caminho?”. Gerson, que não costumava participar de competição alguma,  fez uma bela redação – veja aqui, na página 17 – e ganhou o prêmio.

“Até tinha esquecido que tinha participado. Daí, um dia, seguindo o mesmo ritual de pegar o jornal e levar à barbearia, vi meu nome estampado. Nem acreditei, fiquei felizão”, conta. Ele diz que, mais do que uma viagem, ganhou uma nova visão de mundo: “Embarquei para os EUA no dia do meu aniversário. Lá, conheci gente de vários países, várias classes sociais, e percebi que temos mais em comum do que imaginamos. Todo mundo quer mudar o mundo à sua maneira”.

Durante um mês, pela manhã, Gerson tinha aulas de inglês na Universidade de Ever Green e à tarde participava de atividades (passeios, seminários etc) com os universitários. Das várias palestras que assistiu, não vai se esquecer tão cedo da de Matt Groening, o criador dos Simpsons. “O cara é demais, sou fã”.

De volta ao Brasil, sua história de “barbeiro, bom de redação e que havia conhecido Seattle”, chamou a atenção de uma agência de intercâmbio, que o convidou para realizar um intercâmbio de duas semanas em Londres, com tudo pago. Em troca, ele só teve que aproveitar muito, conhecer vários lugares diferentes e tirar dezenas de fotos, marcando sempre a escola e a agência a fim de divulgá-los.

Sou pobre, da Baixada como eles, estudei a vida toda em escola pública e, na época em que ganhei o concurso, meu pai era pedreiro e minha mãe estava desempregava

Agora, Gerson está juntando dinheiro e buscando bolsas de estudo e outras oportunidades que o levem a Tókio. Este é o passo imediato – o de longo prazo é fazer uma pós-graduação em relações internacionais, sua área, no exterior. Paralelamente, ele visita escolas para contar sua história e motivar adolescentes a partir da 8ª série a irem atrás daquilo que desejam. Isto é, sem esquecer o lugar da onde vieram, começar a focar aonde querem chegar.

“No começo, é difícil, a sala fica na maior bagunça, acham que é alguém que vai vender coisa ou falar bobeira. Mas, quando começo a contar a minha história, eles logo se identificam. Sou pobre, da Baixada como eles, estudei a vida toda em escola pública e, na época em que ganhei o concurso, meu pai era pedreiro e minha mãe estava desempregava. Eles também estão acostumados a trabalhar desde cedo como mecânico, em casa de família… E eu trabalhei anos como barbeiro para ajudar em casa”, diz ele, que depois de quatro anos de tentativas conseguiu a pontuação necessária no Enem para conseguir uma bolsa integral na universidade pelo Prouni (programa federal que concede bolsas de estudo a jovens de baixa renda).

“Só quero mostrar que é possível ir além. Na época em que eu estava no ensino médio, não tinha acesso a essas informações e não sabia que era possível fazer uma graduação fora do país. Hoje, sei que é, e quero incentivá-los a tentar”, conta. Acesse aqui a cartilha com dicas do Gerson.
Por Lecticia Maggi



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